domingo, 24 de dezembro de 2017

O Natal dela


O Natal dela

Era dezembro. E como sempre ela abria a gaveta e tirava de lá a bolsinha florida onde guardava suas economias. Dinheirinho enrolado, juntado ao longo do ano, nota por nota, centavo por centavo. Era dali que saíam as lembranças para cada um da família. Os filhos, genros, noras e netos. Na sua modesta lista entravam também a lavadeira, a costureira, a vizinha, a colega do terço e aquela família necessitada. Até hoje me pergunto como é que pode um coração caber tanta gente assim? 
Para os homens da família ela tinha a mania de presentear com o famoso “corte de calça”, mas quando o dinheiro era curto, a boa e tradicional meia resolvia tudo.  Para as mulheres ela diversificava um pouco mais e quando o assunto eram os netos, aí ela caprichava. Sabia o que cada um gostava e sempre dava um jeito de achar alguma coisa interessante. Foi dela que ganhei um biloquê e meu irmão ganhou o carrinho de rolimã que ele tanto queria. Confesso que eu e meus irmãos, como netos que moravam com ela, tínhamos alguns privilégios. Mas ela tinha um olhar e uma preocupação com cada um dos seus 23 netos. 
E quando o dinheiro faltava ela plantava mudas de rosas no saquinho bem antes do Natal. Cuidava religiosamente das mudas como se fossem bebês e presenteava as pessoas com a pequena roseira. 
Além dos presentes, tinha um cuidado especial com as comidas. Ela ia longe buscar o melhor queijo para os primos que vinham de fora. O melhor doce, o leite mais puro, o melhor frango caipira. Ela mesma fazia os doces complicados. Figo, laranja da terra e pé-de-moleque, sua especialidade. Só mais tarde fui entender que aquilo era amor em forma de alimento. 
Minha avó Quinha, quanta saudade! O Natal não é Natal sem as avós. Ninguém é mais feliz que elas neste dia! 
Vó, era por você que a gente se reunia. Era a sua volta que toda aquela festa acontecia! O Tio Roberto cantando, os amigos de todos os cantos da cidade que tradicionalmente passavam  pela sua casa na noite de Natal e o seu perfume de lavanda inesquecível. Sinto saudade do cheiro da sua casa, do leitão assando e daquela correria da meninada no meio da chuva de dezembro. Sinto até hoje o seu amor por todos nós... 
E toda vez que chega dezembro, eu imagino que, em algum lugar, tem uma avó feliz e realizada com a família a sua volta, como você foi um dia! 
Vó, enquanto eu viver, todo Natal será dedicado a você! 

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos
Imagem da Internet


Olá pessoal,

independente da sua crença, do fato de você ser Cristão ou não, eu desejo a você boas festas, muitos abraços, muitos sorrisos e se for possível, faça uma avó feliz!

Grande abraço


Leila Rodrigues

4 comentários:

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